quarta-feira, 14 de setembro de 2016

E QUANDO UM LEIGO COMENTA A COLETÂNEA POTIGUAR DE QUADRINHOS?

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Por Sérgio Vilar - SUBSTANTIVO PLURAL
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Heróis da Marvel e da DC Comics, concomitante aos personagens de Maurício de Souza, povoaram minha infância. E este é um início de texto horrível, já que o mesmo aconteceu com a torcida do Flamengo e do Vasco inteira. No meu caso ficou apenas nesse período infantil, tal qual aconteceu também com a torcida do Corinthians e do Palmeiras juntas. Oh!
Parei com os gibis talvez pelo cansaço à procura da edição número 1 e 4 do Superman, para completar os cinco primeiros números. Talvez pelo sumiço das cigarreiras no Barro Vermelho, onde eu morava. Mas isso tudo é apenas para destacar meu desconhecimento neste admirável mundo novo das HQ’s ou para justificar minha ignorância ao comentar a novidade da Coletânea Potiguar de Quadrinhos.

Hoje sinto dificuldade em entender o gênero já alçado a status de literatura. Ganhou até uns nomes bacanas, como graphic novels, e tal. Uma história evolutiva que, no Brasil, o RN está presente com pomba e tradição. E aí uma ressalva: até valorizamos alguns pioneirismos potiguares, mas não a formação do primeiro grupo de pesquisa e histórias em quadrinhos do Brasil!
O GrupeHQ surgiu ainda em 1971, quando Mônica tinha todos os dentes e Cascão ainda era limpinho. Isso apenas 11 anos depois da publicação da primeira HQ brasileira, O Pererê. E há 45 anos mantemos produção e exportamos quadrinistas para o Brasil afora e além mar. Disso eu sei por que fiz matéria já faz uns bons anos. E acho que sei identificar também boas histórias, independente do gênero. Então vamos lá.
Coletânea e 1ª Edição
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Bom, a Coletânea Potiguar de Quadrinhos é uma edição luxuosa com capa dura, papel couchê, 98 páginas, sete histórias e mais uma HQ infantil. Foi lançada no último 9 de maio na Funcarte. A publicação foi viabilizada pelo edital Moacy Cirne de Quadrinhos 2014. Uma comissão formada pelo professor Henrique Magalhães (UFPB), pelo desenhista Daniel Brandão (Fortaleza) e por AnaLu Medeiros (Natal) julgou as propostas inscritas e selecionou o conteúdo.
A Funcarte anunciou o lançamento como inédito na cultura potiguar. Tenho ressalvas. Em fevereiro de 2011, no fechar das portas da gestão Crispiniano Neto, o projeto 1º Edição, também viabilizado via edital, lançado ainda em 2008, e também com o nome Moacy Cirne, jogou na praça nada menos que 30 HQ’s inéditas de autores potiguares. Não era coletânea, mas a relevância das duas iniciativas é bem parelha.
À época o projeto foi realizado em parceria do GrupeHQ com quadrinistas (que entraram com valor simbólico) e a Gráfica Manimbu (que ingressou com a impressão de 500 exemplares de cada título). Os primeiros lançamentos foram feitos em Umarizal, Santa Cruz, São Rafael, Tibau do Sul e Macau, com excelente receptividade. Em Natal aconteceu na hoje extinta Potylivros. Até fui lá e comprei cinco títulos, que guardo até hoje.
Entre as edições havia temáticas variadas. Desde o regional à ficção científica, passando por dramas, romances, histórias cômicas e até jornalismo em quadrinhos. Caso da reportagem sobre a derrubada do estádio Machadão, escrita e roteirizada pelo jornalista Beto Leite e desenhada pelo artista visual Marcos Guerra.
As historinhas da ColetâneaVoltando à Coletânea, achei um trabalho mais bem acabado, digamos. Lembro das HQ’s de 2011 com muitos erros ortográficos, muitos mesmo. O nível dos roteiros achei semelhante. Na Coletânea, eu destacaria uma história excelente e duas ótimas entre as oito. As outras são boas. Desgostei mesmo apenas de uma.
Resultado de imagem para COLETÂNEA POTIGUAR DE QUADRINHOSA primeira HQ é disparada a melhor e também a mais longa, com 35 páginas. “O tempo voa…”, de Estrela Santos, desperta flertes estreitos com os dramas kafkianos. E não só pelo enfoque num inseto (neste caso, uma mosca), mas pelos conflitos existenciais agudos, pela falsa esperança do personagem, pelas falsas escolhas presentes em cada frame (minha mulher identificou semelhança com um conto de Clarice Lispector, intitulado “A Mosca e o Mel”). Gostaria de embasamento para ratificar também um traço singular na ilustração. Mas talvez eu esteja certo por que a autora é também artista plástica.
“Nova Era”, roteirizado por Rodrigo Bezerra com desenhos de Carlos Alberto de Oliveira é o único puxado à ficção científica. E quando o cenário é Natal a história ganha empatia imediata. A trama se baseia em uma época futurista onde as fontes de energia são mais raras e há disputa entre um grupo conservador contra a livre distribuição de energia à Zona Norte da cidade.
Já conheço o trabalho de Marcos Guerra. Entre os títulos que comprei do 1ª Edição está seu Evangelho Segundo o Sangue. Também acompanhei os trabalhos da K-Ótica, comandada por ele, no campo virtual. Nesta Coletânea, ele roteiriza “Oceano de Cinzas”, com arte de Leander Moura, que emprestou uma atmosfera meio noir. A história parece se passar em um espaço transitório entre a vida e a morte. Digo “parece” porque fica uma questão no ar se a personagem está viva, morta ou é sonho, devaneio. Está entre minhas duas historinhas ótimas.
A dupla Rodrigo Bezerra e Carlos Alberto de Oliveira volta com “Ultra Secreto”, que me parece voltada ao público infantil, e achei por vezes demasiado didático ou sem entrelace entre as informações sobre o período da Segunda Grande Guerra em Natal/Parnamirim.
Milena Azevedo nos traz um roteiro de época traçado na década de 60 no Mississipi, EUA, ainda dominado pela cegueira racista. “Black et Blanc” se inicia como mais uma história sobre preconceito, com excelentes ilustrações de José Veríssimo, mas o final surpreende já na última página. Muito bom.
Quatro quadrinistas se uniram para criar “O Senhor da Tempestade Negra”. Muita gente e uma história com bom roteiro de Rodrigo Bezerra e Marcos Guerra, mas pouco desenvolvido nos frames, ilustrados por Renado Medeiros com arte final de Carlos Alberto de Oliveira. Acho que o personagem central poderia ser mais destacado.
Se a Coletânea abriu com a excelência do roteiro e das ilustrações de Estrela Santos, fecha com chave de ouro na HQ roteirizada e ilustrada por Wanderline Freitas. Um mix de humor, criatividade, super heróis desajeitados e algumas onomatopeias no melhor estilo Batman e Robin, fazem de “Eniguima” e suas aventuras na cidade de Gota City muito demais mesmo.
Coletânea 2 – A missão
Sim, há a ideia da confecção da segunda Coletânea de Quadrinhos. Mas não este ano. Pelo menos não via edital da Funcarte. Tempos difíceis e tal e aquela situação já conhecida. No entanto, Milena Azevedo adiantou conversas com o vereador Marcos do PSol, autor da emenda que angariou verba para a primeira edição, acenando a possibilidade para o segundo volume em 2017.
“A pedido da Funcarte, nós, quadrinistas, já fizemos uma proposta para melhorar o edital. Não tenho como adiantar nada além disso porque tudo ainda será debatido com o pessoal do departamento jurídico da Funcarte”, disse Milena.
Essa primeira edição da Coletânea recebeu tiragem de três mil exemplares. E está à venda! Pode ser encontrada na Cooperativa Cultural da UFRN e na K-Ótica, ou mesmo direto com os autores. Agenda com dona Milena Azevedo. Manda email para ela pelo: portalghq@gmail.com
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Quem tiver curiosidade em saber as HQ’s e seus autores do Projeto 1ª Edição, ei-los as 20 da primeira leva, lançadas em Natal:
Publicações no edital Moacy Cirne de 2011
1- O Barqueiro – Rodrigo Fernandes (Umarizal)
2- Terra de Ninguém – Miguel Everaldo e Wendell Cavalcanti
3- Amigos,Amante e Amores – Wanderline Freitas (São Rafael)
4- Situações – Antonieto Pereirade (Santa Cruz)
5- História de Tibau do Sul – Dacio Galvão e Aucides Sales
6- História do Rio Grande do Norte – Aucides Sales
7- O Contador de lorotas – Leo Feitoza
8- Brado Retumbante – Lula Borges
9- Carcará – Beto Potyguara
10- Fabula Moderna – Gabriel Andrade Jr. (Macau)
11- Mosaico – Milena Azevedo
12- Os Notáveis – Beto Potyguara, Wolclenes, Wanderline e Wagner
13- Titanocracia – Marcos Guerra
14- O que vai ser derrubado com o Machadão – Beto Leite e Marcos Guerra
15- O Evangelho segundo o sangue – Leander e Marcos Guerra
16- Labareda – Luiz Élson
17- Bateu na Mãe – Vinícius Dantas
18- Luz nas Trevas: Autor em Crise – Joseniz Guimaraes
19- Contos e Encantos – Adrovando Claro
20- Tribuna do Humor – Amâncio

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