sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Muito antes de Sam Raimi: as quase adaptações de Homem-Aranha para os cinemas

Por Judão

Agora que O Espetacular Homem-Aranha (...) e já passou o fresson da estreia, é aquela hora maneira de olharmos para o passado e analisarmos as quase adaptações do Cabeça de Teia para o cinema. Porque sim, engana-se aquele que pensa que a primeira vez que resolveram fazer um filme do Homem-Aranha foi no começo de 2000, já dirigido pelo Sam Raimi.
Passando desde lançamento internacional de série besta até a possibilidade de James Cameron dirigir um filme do Aranha, o personagem passou por problemas com direitos autorais, produtores que não manjavam o que tinham em mãos e possíveis bombas que felizmente não sairam do papel. Chegou a hora de falar delas.
A série bucha que virou filme
The Amazing Spider-Man estreou em 1977 na TV dos EUA provavelmente era uma bosta. Digo isso sem ver um maldito episódio, mas foda-se né?! Fora dos EUA, foi feita uma edição marota de alguns episódios e lançada nos cinemas internacionais. Sim, em alguns países, o filme do Sam Raimi não foi o primeiro longa do Homem-Aranha a estrear na tela grande. Considerando o trailer, não perdemos muita coisa… Mas é isso aí. Primeiro filme do Homem-Aranha era assim:
E sim, eu sei que isso não foi uma QUASE adaptação, mas não vou considerar como adaptação pro cinema porque foi CHUNCHO. :D
Problemas na Cannon Films
Inicialmente, os direitos de filmagem do Homem-Aranha estavam em posse do produtor e diretor Roger Corman (que fez aquele filme que ninguém viu do Quarteto Fantástico). Depois que ele perdeu tais direitos, a Marvel os vendeu para a Cannon Films.
O nome pode não parecer familiar para muitos (infiéis), mas a produtora lançou filmes sensacionais nos anos 80, como Stallone Cobra e O Grande Dragão Branco. Zeraram no jogo da vida, mas isso não durou muito porque depois foram pro saco…
Os direitos foram para a produtora em contrato de 5 anos, que não seria renovado se um filme do Homem-Aranha não tivesse sido produzido até abril de 1990. Os chefes do estúdio/produtora/fábrica de sonhos (risos), Menahem Golan e Yoram Globus, contrataram um roteirista para escrever o filme, que seria dirigido, inicialmente, pelo diretor Tobe Hopper (de O Massacre da Serra Elétrica e, teoricamente, Poltergeist, já que existe a história de que quem dirigiu mesmo o filme foi o Steven Spielberg). O único grande problema desse início de produção foi que Golan e o Globus provavelmente não faziam ideia de quem era o Homem-Aranha, já que o roteiro contava a história de um fotógrafo que foi vítima de um cientista que o expôs à radiação, o transformando em um monstro peludo com oito braços. Quando ele se recusa a participar de uma nova raça de supermutantes que o cientista quer formar, teria que lutar contra experimentos presos num laboratório.
POIS. É.
O roteiro chegou nas mãos do Stan Lee, que provavelmente mandou um “Me perdoem, mas O QUE CARALHOS VOCÊS ESTÃO FAZENDO?” e pediu que refizessem tudo. Novos roteiristas foram contratados e uma nova história foi criada. Na nova versão, a origem foi levemente alterada, mostrando que o acidente que dá os poderes ao Peter (aqui, já na faculdade), também é responsável pela fusão dos braços mecânicos no Dr. Octavius, criando no embalo o Doutor Octopus. O vilão tentaria alguma coisa besta que só vilões podem fazer, do tipo que acabaria com a cidade de Nova York e só o Homem-Aranha pode impedir.
O diretor Tobe Hopper saiu da produção, que então foi assumida por Joseph Zito, que logo começou a buscar por locações nos Estados Unidos e Europa. O orçamento do filme ficou entre 15 e 20 milhões, uma quantia que hoje é considerada troco de pinga para estúdios de cinema, mas nos anos 80 era grandiosa.
Inicialmente, o diretor cogitou o ator/dublê/chapeiro Scott Leva para o papel principal, inclusive criando um trailer e fotos promocionais com o cara como Peter Parker/Homem-Aranha.
Como se isso não bastasse, a própria Marvel entrou no embalo e colocou uma foto do sujeito na capa da Amazing-Spider Man #262.
Com o avanço da pré-produção, outros atores foram cogitados, como Tom Cruise (naquele embalo do Top Gun), Bob Hoskins (o MARIO, MALUCO!) como Doutor Octopus e atrizes como Lauren Bacall e Katharine Hepburn como Tia May. Percebe-se que eles tavam pensando grande com a parada. Só que aí a merda aconteceu.
Com o lançamento cagado deSuperman IV e Mestres do Universo(aquele filme do He-Man com o Ivan Drago), o estúdio começou a capengar FORTE financeiramente, o que forçou a redução do orçamento do filme para 10 milhões de dólares. Por causa disso, muito do que estava sendo planejado foi pro saco. Isso fez com que o diretor Joseph Zito abandonasse a produção pois “não queria fazer um filme que já começava comprometido pelo orçamento”.
Os problemas financeiros da Cannon Films continuaram até o ponto em que tudo foi pro vinagre. O estúdio acabou sendo vendido para o grupo francês Pathé e, com isso, Manahen Golan levou consigo diversos direitos de filmagem, inclusive o do Homem-Aranha.
Golan então resolveu que produziria de forma independente o roteiro original, com aquele orçamento maior. Negociações com a Columbia Pictures (que ainda não havia sido adquirida pela Sony) foram realizadas e, junto com Viacom, comprou os direitos de distribuição em home video do filme, que ainda nem tinha sido produzido. Logo em seguida, apareceram a Carolco Pictures e James Cameron na jogada e aquele período sem um filme do Homem-Aranha parecia estar chegando ao fim.
Carolco e James Cameron. Como isso poderia dar errado?
A Carolco Pictures era uma produtora independente responsável por filmes como a Trilogia Rambo,Exterminador do Futuro 2 e Vingador do Futuro. Os caras tinham a manha. Aí Manahen Golan e a sua nova empresa, 21st Century Film Corporation, anunciaram que o filme seria feito e que o diretor James Cameron havia preparado uma nova versão do roteiro de Homem-Aranha.
O envolvimento deles se deu por conta de outro projeto da Marvel que eles estavam envolvidos. Inicialmente, James Cameron produziria um filme dos X-Men, que seria dirigido pela sua então esposa, Katherin Bigelow (que ganhou o Oscar de Melhor Diretora por Guerra ao Terror).
As conversas entre Carolco, Cameron e Marvel estavam indo bem, mas segundo Chris Claremont (que escreveu histórias fodas dos mutantes), tudo foi pro saco quando o Stan Lee virou pro James Cameron e disse “Eu ouvi falar que você gosta do Homem-Aranha”.
Depois de entregar o primeiro tratamento, que ainda era idêntico àquela primeira versão, surgiram boatos de que Arnold Schwazernegger era o preferido do diretor para o papel do Doutor Octopus. Fique com isso na cabeça.
Meses depois, ele apresentou um novo roteiro com 40 e poucas páginas (e que é facilmente encontrado na internet e já foi lido por este que vos escreve). Nesta versão, tudo mudou e apareceram as teias orgânicas, em vez da versão criada pelo gênio Peter Parker. Neste tratamento de roteiro, Peter consegue seus poderes e tem que lutar contra o Electro e Homem-Areia. Aqui, o Electro é muito mais um “Rei do Crime” que outra coisa, enquanto o Flint Marko é só um capanga.
Dos roteiros criados, esta é a primeira vez que a Mary Jane aparece como interesse romântico. E é interessante (e meio zoado) o jeito que ela se relaciona com o Peter/Homem-Aranha: ele é meio stalker dela e, um dia, depois de salvá-la, a leva pra uma das torres da Ponte do Brooklin. Tudo é lindo e ela dá pra ele, ENQUANTO ele está de máscara. Nice, né? Pelo menos essa cena dá margem pro finalzinho, quando ela descobre sua identidade secreta, já que antes de mandar bala, ele, com sua voz de Homem-Aranha (sim, ele mudava um pouco a voz) pergunta: “Você confia em mim?”.
Depois de uma luta ÉPICA no World Trade Center (e que nada me tira da cabeça que foi reutilizada em Spider-Man 2: Enter Electro, de PS1), a MJ resolve que vai ficar com o Peter. Ele vai beijá-la e antes disso chega pertinho e repete com a voz de Homem-Aranha “Você confia em mim?”
Sinceramente, não era um roteiro ruim. Era uma história que retratava um Homem-Aranha dos anos 90, um jovem daquela época. E a luta final era realmente foda. Uma sacada FANTÁSTICA da história é que o Aranha fica famoso na cidade, antes de começar a ser perseguido pela polícia. Pra luta final, a roupa dele tá TODA ZOADA, não dando pra consertar. Ele então passa por uma loja de fantasias na Times Square e vê uma de, adivinha do que?, Homem-Aranha, melhor que a roupa original dele. Compra e vai pra porrada nas Torres Gêmeas.
Tudo parecia maneiro, mas o problema se chamava dinheiro. A Carolco estava se afundando em dívidas e problemas legais, o que fez com que a produção toda fosse pro saco em 1992. E esse era só o começo dos problemas.
Processos, ameaças e falências. Essa porra não tava fácil pra ninguém
Depois de anos de produção, uma adaptação do Homem-Aranha quase saiu do papel, mas dinheiro foi o fator que impediu tudo. Aí começaram os processos.
O James Cameron tinha um contrato que dava a ele controle total sobre o filme do Homem-Aranha, algo que deixava de lado o dono dos direitos, Menahem Golan. Ele ficou putinho e ameaçou processar a Carolco. Aquela tretinha marota foi seguindo até a Carolco resolver processar a Columbia Pictures e a Viacom pra ter os direitos de home video. Nessas, pra entrar na dança, a Fox, que não tinha ABSOLUTAMENTE PORRA NENHUMA no negócio, resolveu tretar porque tinha um contrato de exclusividade com o James Cameron. Isso continuou até 96, quando a Carolco, a 21st Century Film Corporation AND Marvel faliram.
Enters MGM, que comprou todos os direitos e produções da 21st Century Film, inclusive de TODAS as produções dos quase-filmes do Homem-Aranha. Só que, contratualmente, Menahem Golan ainda era o detentor dos direitos do personagem, e como nenhum filme foi produzido, eles voltaram à Marvel, já reestruturada. A Marvel, malandrona que só, pegou e vendeu os direitos de adaptação do Homem-Aranha para a Columbia Pictures por 7 milhões de dólares.
Sim, a Marvel vendeu uma propriedade com potencial — que depois virou realidade — de arrecadar bilhões, por 7 milhões de dólares…
Só que a MGM bateu o pé, disse “nananinanão” e resolveu peitar, acreditando ser a verdadeira dona dos direitos autorais, ameaçando fazer uma adaptação paralela só de marra.
Aí virou briga de cachorro grande pelos seguintes motivos: A Columbia Pictures havia comprados os direitos do Homem-Aranha e tinha acabado de contratar um dos antigos executivos da MGM, que levou com ele alguns direitos de personagens e histórias do 007, a única franquia que realmente dava dinheiro pra MGM; A MGM tinha comprado a biblioteca de direitos da 21st Century Film, o que incluia o Homem-Aranha. Caso a Columbia fizesse um filme do 007, tiraria a franquia das mãos do estúdio, que poderia contra-atacar com a produção de um longa do Aranha.
Basicamente, não importava quem começasse a briga, daria merda pros dois lados. Talvez temendo problemas ainda maiores, os dois estúdios resolveram fazer uma troca. A Columbia abriria mão do 007, enquanto a MGM cederia os direitos do Homem-Aranha.
Sendo assim, a Columbia Pictures (agora em vias de ser adquirida pela Sony) conseguiu, em 2000, finalmente iniciar a produção de Homem-Aranha. Dessa vez, as ideias realmente saíram do papel e todos ficaram ricos.
Só mais uma coisa…
Pra efeitos de constagem de como o mundo dá voltas: Hoje a Sony/Columbia Pictures são os distribuidores dos filmes do 007. Booya!

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