segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lets talk about sex

No Brasil e no mundo há poucas obras teóricas sobre o erotismo nos quadrinhos, conheça um pouco mais sobre elas
Por Nobu Chinen - UHQ

Erotisme et Pornographie dans la Bande DessinéeO tema é sempre polêmico, porém, instigante. Para alguns, puro fetiche; para outros, tabu. Sim, respeitável público, estamos falando de sexo. Mais precisamente de sexo nos quadrinhos. E, sendo mais explícito (ops!), de livros que tratam de sexo nos quadrinhos.


São raros os autores que dedicaram um olhar mais atento e específico a esse gênero. Se bem que, de modo geral, os estudiosos incluam um capítulo sobre o tema em suas obras e as enciclopédias de HQs não omitam os principais personagens do ramo.


Mesmo estando desatualizada, a obra que serve como referência continua sendo o excelente livro francêsErotisme et Pornographie dans la Bande Dessinée, de Michel Bourgeois, editado em 1981 pela Jacques Glénat. Esse estudo clássico faz um levantamento (epa!) bem amplo, começando pelos quadrinhos norte-americanos da década de 1930. É um trabalho muito oportuno, pois na época de seu lançamento refletia um momento particularmente rico da produção européia, em que despontavam nomes como Guido Crepax, Georges Pichard e Moebius. Vivia-se os gloriosos anos da famosa Métal Hurlant e de sua congênere americana Heavy Metal, que exploravam o sexo e o erotismo em doses anabolizadas. Mas o livro também dava uma passeada, obrigatória por sinal, nos quadrinhos underground dos anos 60 e 70, igualmente generosos em cenas de sexo.


O Quadrinho Erótico de Carlos ZéfiroNo Brasil, não há nada remotamente parecido. Os desavisados talvez possam se iludir com o título Quadrinhos, Sedução e Paixão, de Moacy Cirne, mas dentre os diversos capítulos que formam seu interessante conteúdo, apenas um é sobre erotismo nas HQs. O livro Psicologia e História em Quadrinhos, de Francisco Assumpção, cujo escopo até permite uma abordagem um pouco mais apropriada ao tema, dedica-se apenas parcialmente à sexualidade dos heróis dos gibis.



Os Alunos Sacanas de Carlos ZéfiroQuatro livros tratam dos quadrinhos de sexo explícito ou "catecismos". O Quadrinho Erótico de Carlos Zéfiro, de Otacílio d'Assunção Barros, e A Arte Sacana de Carlos Zéfiro, de Joaquim Marinho, são dedicados ao desenhista que, oculto sob pseudônimo, fez muito sucesso na décadas de 1950 e 1960. Sua obra, que virou cult (a ponto de ilustrar a capa de um dos CDs de Marisa Monte), possui mais fama pela ousadia do que propriamente pela qualidade artística. Os Alunos Sacanas de Carlos Zéfiro, também de Joaquim Marinho, mostra o trabalho de artistas influenciados pelo estilo de Zéfiro. Já Sacanas Made in USA, de Domingos Demasi, traz uns poucos textos de comentário e reproduções de alguns eight pagers, também conhecidos comodirty comics ouSacanas Made in USA tijuana bibles, as revistinhas de quadrinhos de sacanagem publicadas nos anos 1930 e 40, nos Estados Unidos, que utilizavam personagens famosos como Popeye e Dick Tracy, e se tornaram objeto de cobiça dos colecionadores. Aliás, o livro americano Tijuana Bibles, de Bob Adelman, é uma edição de luxo, com prefácio de Art Spiegelman e trata do mesmíssimo tema, mas com muito mais profundidade (hã... sem trocadilho).


Os livros nacionais citados, além de serem restritos a uma única vertente, a dos quadrinhos marginais distribuídos clandestinamente, também são limitados como referência teórica.


Uma única editora brasileira publicou os três livros cujo conteúdo é predominantemente voltado ao erotismo nas HQs e tem relevância significativa para o estudos dos quadrinhos: a Opera Graphica.


As Sedutoras dos QuadrinhosCuriosa e sintomaticamante, os três títulos dão ênfase à figura feminina, às personagens sensuais e provocantes que povoam a imaginação e alimentam a fantasia dos leitores de HQs, sabidamente, um público de predominância masculina e adolescente, com hormônios em plena ebulição.


O primeiro livro é As Sedutoras dos Quadrinhos, de Marco Aurélio Lucchetti, uma minienciclopédia que trata das mais sensuais e importantes personagens femininas divididas em verbetes que cobrem - ou descobrem - desde Jane e Betty Boop até Druuna e Lara Croft, passando por Vampirella e a brasileira Mirza, de Eugenio Collonnese. Nota-se a intromissão, provavelmente voluntária, de uma ou outra beldade que se tornou célebre não exatamente nos quadrinhos, como a pin-up Betty Page, mas que tem todos os méritos para figurar entre as demais heroínas.


As Taradinhas dos QuadrinhosA segunda obra é As Taradinhas dos Quadrinhos, de Franco de Rosa, um livro de bolso com conteúdo bastante sucinto sobre as mais apetitosas garotas das HQs. Uma edição de minúsculas proporções, mas grande o bastante para introduzir o assunto (novamente, sem trocadilho) e despertar o interesse pelas tais sexy girls.


E, finalmente, o mais recente lançamento do gênero: Tentação à Italiana, de Gonçalo Júnior (leia aqui uma entrevista com ele). Uma produção primorosa, extremamente caprichada, com direito a formato gigante, capa dura, impressão em papel especial e projeto gráfico sofisticado. Um padrão inédito para livros sobre quadrinhos editados no Brasil. Como o nome indica, o autor se restringe às criações italianas, mas o faz de maneira muito competente e abrangente, com a inclusão de menções à influência da estética e do cinema daquele país. Além do mais, a "escola" erótica da "bota" é responsável por algumas das mais belas e excitantes imagens dos quadrinhos em todos os tempos, o que por si já justifica um volume dedicado a essa produção.


Tentação à ItalianaO livro faz uma análise geral de vários autores de diversas épocas, mas o estudo em detalhes se concentra na obra de três grandes feras: Guido Crepax, o requintado autor de Valentina; Milo Manara, cujo traço deu vida a belíssimas e fogosas mulheres, e Paolo Eleuteri Serpieri, criador das deslumbrantes formas da heroína pós-apocalíptica Druuna. Tudo escrito num estilo irretocável e generosamente ilustrado.


Estes três livros compõem uma boa biblioteca básica de um segmento que é, provavelmente, o mais interessante dos quadrinhos eróticos. Talvez não sejam suficientes para saciar as necessidades de quem espera encontrar um manual no estilo "Tudo o que Você Queria Saber sobre Sexo. E com Balões", mas tanto nas HQs como na vida real, é melhor ser um exímio especialista a respeito de poucas e boas, a ter somente um conhecimento superficial sobre muitas. Sejam elas sedutoras, taradinhas ou outras tentações.

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