segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Quadrinhos e religião: algumas resenhas

Por: Pedro de Luna - JB

genesis de robert crumb

Gênesis, de Robert Crumb (Conrad Editora)
Fruto nada proibido de um trabalho que consumiu quatro anos e foi eleito como um dos melhores lançamentos de 2009, o primeiro livro da Bíblia ganhou uma versão completa em quadrinhos. O único (e importantíssimo) detalhe é que pela caneta de Robert Crumb, um ícone da contracultura dos anos 1960 que, além de ateu, ficou conhecido pela sua visão liberal sobre sexo e drogas.

Tudo isso poderia gerar uma grande apreensão, sobretudo por parte da Igreja. Mas o artista não faz críticas a instituição, apenas limita-se a contar de forma ilustrada e didática a complexa história – sobretudo quando narra as inúmeras linhagens de descendentes dos personagens mais importantes, como Abraão.

O livro começa com a criação do mundo e do casal Adão & Eva, segue com o episódio de Noé (que foi revisitado recentemente no filme 2012, numa versão atual do dilúvio e já disponível em DVD), a destruição de Sodoma e Gomorra, e termina com a morte de José, aos 110 anos de idade, no Egito. “José teve uma lição de humildade muito mais valiosa que a de seus irmãos bábaros, que aprenderam através do medo”, comentou o autor na última página.

E bota barbaridade nisso. Numa época em que se matava por pouco, e de forma cruel – cortando cabeças e gargantas, quando não com pedras – as cenas de lutas são intensas e ricas em detalhes. Esta e outras marcas registradas de Crumb estão marcadas no papel, como o traço hachurado e as mulheres de formas generosas. No exterior, as cenas de sexo e de nudez incomodaram autoridades cristãs e, por precaução, a versão brasileira se limitou a estampar na capa o ícone que representa a criação. A estrangeira traz a cena em que Adão & Eva são expulsos por Deus do Jardim do Éden (abaixo).
capa gringa Genesis de Robert Crumb
Distribuídas em 224 páginas, ilustrada em preto e branco com cenários e figurinos fiéis aos originais – vide a foto abaixo, com referências usadas pelo quadrinista – Gênesis é um livro para deixar na mesa de centro, ou ler algumas páginas por dia como fazem os religiosos. Se você tem fé na boa história em quadrinhos, pode comprar. O traço de Crumb tem poder.
P.s: Em tempo, ele confirmou presença na Flip (4 a 8 de agosto em Paraty-RJ).

Mesa de Crumb ao fazer Genesis
O Quilombo Orum Aiê, de André Diniz (Galera Record)
O novo projeto do autor carioca desta vez foi roteirizado e também ilustrado por ele, num total de 112 páginas. Chama a atenção o estilo, que remete às xilogravuras dos artistas populares do Nordeste. Tendo como mote a fuga de escravos em Salvador, o momento mais interessante do livro é justamente a jornada de quatro personagens rumo ao utópico quilombo. Acontecem inúmeras situações em torno do protagonista, o escravo Vinicius “Capivara”. Ele simpatiza com Sinhana (escrava de um escravo), que por sua vez nutre algo mais pelo escravo malês Abul, num sentimento recíproco. Ao mesmo tempo, Capivara vive uma dualidade de amor e ódio com o branco Antero, que passa a viagem toda filosofando. O final é de certo modo previsível, mas vale pela mensagem otimista.
Quilombo Orum Aie os 4 personagens juntos
A Bíblia em Mangá, de Siku (Editora JBC)
Um caso que repercutiu no mundo todo aconteceu em 2007, quando a editora inglesa Hodder and Stoughton lançou uma nova adaptação da Bíblia no formato mangá. Desenhada pelo inglês Siku, que é casado com uma brasileira, em parceria com seu irmão, a Bíblia em Mangá vendeu milhares de exemplares e foi publicada aqui pela editora JBC, especializada no formato japonês de quadrinhos. No fim das contas, o que vale independente do tema e da religião é a intenção por trás do projeto.


Apesar das ilustrações coloridas que circularam pela internet, a versão comercializada aqui é em preto e branco, com preço de capa bastante acessível (R$ 9,90). O que torna a leitura maçante é o próprio texto do Velho Testamento e do Novo Testamento, com o uso excessivo de expressões nada populares como “destruístes todos os vossos ídolos, todos os vossos astaretes, todos os vossos baals”. Porém, do ponto de vista doutrinário, uma adaptação para o formato pop do momento possa ser bem visto pelos cristãos.
Moises abrindo o mar na Biblia em Manga


jesus e apostolos na Biblia em Manga
Yeshuah, assim em cima assim embaixo, de Laudo Ferreira Jr. (Editora Devir)
Ao mostrar a sua visão pessoal de Jesus e ângulos diferentes de Maria, José, Pedro, João Batista e Maria Madalena, aproximando o humano do sagrado, o artista pesquisou em fontes diversas como o misticismo, o budismo, o islamismo e a Cabala. O traço expressivo e carregado de emoção perde fluidez na linguagem carregada do texto original - assim como na versão da Bíblia em Mangá - num livro que não se encerra nele mesmo. O primeiro volume da trilogia não funciona sozinho, mas tem o mérito por jogar luz sobre um assunto delicado sem perder o respeito pelo tema.
Yeshauh de Laudo Ferreira Jr


Crucificados em Yeshauh de Laudo Ferreira Jr

Um comentário:

Psycho disse...

legal D+ ESTE BLOG.

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