segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os 50 anos de carreira quadrinísitca de Flávio Colin!

Em 2009, os 50 anos da carreira quadrinística de Maurício de Sousa foram celebrados efusivamente. Porém, outra importante data passou praticamente despercebida: o cinquentenário da carreira quadrinística de Flavio Colin! Afinal, embora já desenvolvesse trabalhos de desenho e ilustração para a Rio Gráfica e Editora e também para O Cruzeiro, o próprio mestre Colin considerava Aventuras do Anjo o marco inicial de sua carreira como quadrinista. Lançada em 1959, a série de revistas trazia a adaptação para os quadrinhos do popular seriado da Rádio Nacional, criado por Álvaro Aguiar.Para marcar esse cinquentenário, reproduzo abaixo um depoimento exclusivo que mestre Colin concedeu-me em 2000 e que foi publicado pela primeira vez na edição especial de Estórias Gerais lançada pela Conrad em 2007. Fiquem então com as palavras desse gênio de nossos quadrinhos, que nos faz muita falta e deixou muitas saudades:

Teresópolis, 17 de agosto de 2000.

Caro Wellington,

Acho melhor substituir a “biografia” bastante resumida que lhe passei pelo telefone por um comentário. Não quero publicar uma mensagem amarga. Poderia desestimular os novos talentos. Eles não merecem isso. Por outro lado, “biografia” me parece coisa “post mortem”... Aí vai:

Todos sabem que as histórias em quadrinhos são um maravilhoso veículo de comunicação. Maravilhoso e importante, principalmente no Brasil, país com milhares de analfabetos e semi-alfabetizados, onde os livros são caríssimos. Quadrinhos são mais populares e baratos. Seduzem pela interessante e harmoniosa combinação do desenho com o texto curto e objetivo.O grande problema para os desenhistas e roteiristas nativos é que nossas editoras, principalmente as maiores, há muito tempo se dedicam a publicar, quase exclusivamente, material importado, alegando, sobretudo, os baixos custos.

Com essa mentalidade cruelmente mercantilista, amparada por uma lamentável falta de patriotismo e por uma vergonhosa alienação cultural, o que se vê e o que se lê em quadrinhos, nada, ou muito pouco, tem a ver com o nosso povo e a nossa terra. E todo esse lixo, com raras exceções, anula e afasta nossos profissionais, tirando-lhes o “pão da boca”. Isso é criminoso.

Tenho sincera admiração pelos “fanzines” que divulgam temas e personagens brasileiros, com coragem, sacrifício e dedicação. Infelizmente, pagam pouco. Isso se deve, é claro, a problemas crônicos e complicados de patrocínio, divulgação e distribuição. Para as editoras de “luxo”, esse é o “lixo”...Nunca fui xenófobo (meus melhores mestres eram todos norte-americanos: Milton Caniff, Alex Raymond, Chester Gould, etc.). Mas é fundamental que as nossas histórias em quadrinhos mostrem o Brasil aos brasileiros. Assuntos, figuras, paisagens, variedade de costumes não nos faltam. Podemos imitar os bons exemplos e utilizar algumas informações dos nossos vizinhos e amigos, mas não devemos assimilar totalmente tudo o que eles fazem ou dizem. Cuidemos primeiro da nossa família e da nossa casa. Desgraçadamente, estamos substituindo o que é nosso pelo alheio. Até a nossa linguagem. Povo que não se conhece, que não se estima e que não tem memória, não é povo. É bando.

Espero que os jovens quadrinistas brasileiros se interessem cada vez mais pelo Brasil, e com seu talento e entusiasmo consigam, afinal, vencer esse pérfido bloqueio cultural e mercantil. Quadrinho brasileiro também traz retorno financeiro. Questão de criatividade e competência. E de patriotismo também.
Abração
Flavio Colin
Por Wellington Srbek
PUBLICADO EM  03.11.2010

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