segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os 50 anos de Capitão 7, primeira revista de super-heróis brasileira.

Outro cinquentenário ocorrido em 2009 que merece ser lembrado é o do lançamento da Capitão 7, primeira revista em quadrinhos dedicada a um super-herói brasileiro. Lançado em 1954 pela TV Record (então o “Canal 7” de São Paulo), o personagem era interpretado pelo ator Ayres Campos, tendo alcançado grande sucesso entre o público infantil (com direito a camisetas inspiradas em seu uniforme e até um fã-clube oficial). Em 1959, aquele que é considerado o primeiro super-herói brasileiro saltaria da telinha para as páginas dos quadrinhos, numa revista regular coordenada pelo ilustrador Jaime Cortez e publicada pela editora Continental, de Miguel Penteado. Sem as limitações técnicas da tevê da época, Capitão 7 provaria-se um sucesso comercial, alcançando mais de cinquenta edições (cuja capa do n°18 ilustra esta postagem).Mas qual não foi minha surpresa quando descobri, há alguns anos, que a primeira HQ do Capitão 7 fora desenhada por ninguém menos que meu querido amigo Julio Shimamoto! Iniciando então sua carreira, mestre Shima recebeu uma convocação de Cortez para produzir os desenhos da HQ de estreia do herói, o que fez de forma muito competente, num traço fino e elegante (que difere bastante do estilo mais intenso pelo qual ele se tornaria conhecido). Numa carta, o samurai de nossos quadrinhos comentou aquele tempo de estreias e como se deu seu envolvimento com o primeiro super-herói brasileiro. Aproveito então os cinquenta anos da Capitão 7 para compartilhar com todos esse precioso relato que nos conta um pouco mais da história de nossos quadrinhos.
Taquara, 28 jun. / 2007
Capitão 7.
Era um herói que fazia muito sucesso na tevê, embora eu nunca tenha assistido. Era época em que alguns bares e poucas casas proletárias tinham o aparelho. Lembro-me que nas tardes de domingo eu ia ver o Corinthians jogar na tevê do bar de seu Quincas, lá na rua de cima, no subúrbio de São Paulo. E quando nos mudamos para o município de Santo André, ia de tele-vizinho (um amigo casado e operário de multinacional. Estudávamos inglês no Instituto Yazigi à noite, e no sábado repassávamos as lições na casa dele. Assim ele me servia café na sala, abarrotada de crianças e senhoras da vizinhança, e constrangido bicava tevê por poucos momentos).
Já fazia terror e começavam os elogios, então o Cortez me assustou com o convite para desenhar a história inaugural de Capitão 7. Assinaram contrato com Ayres Campos, lutador de “catch”, que fazia o papel do super-herói na televisão. Um sujeito simpático, falso-gordo, topete de Elvis, simples e daí o carisma no meio infantil. Então o Cortez me chamou para longe, para que Ayres não ouvisse, e disse: “Shima, não desenhe a cara e nem o corpo dele”. Entregou-me o grande álbum de Flash Gordon no Planeta Mongo e impôs: “Copie a cara e o corpo deste herói de [Alex] Raymond. Lembre-se, a proporção da anatomia é de dez cabeças a doze, porque o Capitão 7 não chega nem a oito”. Fiquei inseguro. Eu não era fã do Alex. Eu gostava do argentino José L. Salinas e de [Harold] Foster (Príncipe Valente). Outros colegas que completaram a revista, Gitahí e Getúlio Delfin, respiravam, comiam e dormiam com o grande desenhista de Flash Gordon na cabeça. Cortez nem se fala. Só falava de Jim das Selvas ou Flash Gordon. Bons tempos os meus de estagiário dos quadrinhos.

Grande abraço, Srbek!

Shima

Por Wellington Srbek
Publicado em 05.11.2010

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