segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sintonia com o mundo real

Edição luxuosa de Guerra civil reúne sete capítulos da série, mostra que mocinhos podem virar bandidos e faz crítica ao universo das celebridades

Por Thiago Corrêa - Diário de Pernambuco 
O mundo dos super-heróis no universo da Marvel Comics passou por uma revolução durante o ano de 2006. Como vemos todos os dias nas manchetes dos jornais, a série Guerra Civil mostrou que as noções de justiça e crime, de certo e errado também são frágeis no mundo dos quadrinhos. Publicada no Brasil entre julho de 2007 e janeiro de 2008, a obra do roteirista Mark Millar e do desenhista Steve McNiven ganha uma nova chance de ser apreciada com a publicação do volume Guerra Civil pela Panini, numa edição luxuosa de capa dura, que reúne sete revistas do eixo principal da série.

Nesses sete capítulos, mocinhos viram bandidos e vilões passam a colaborar com o governo dos Estados Unidos na captura dos seus arquiinimigos. Heróis históricos como Capitão América e Homem-de-Ferro, antes colegas no poderoso grupo Os Vingadores, aparecem frente a frente na linha de combate. Demonstrando sintonia com o mundo real, o estopim da crise adquire um viés crítico em relação ao mundo das celebridades. Para alavancar a audiência do seu reality-show, os Novos Guerreiros decidem enfrentar vilões poderosos e o ataque resulta numa explosão perto de uma escola, matando cerca de 900 pessoas, na sua maioria crianças.


Uma tragédia registrada pelas câmeras de televisão e transmitida ao vivo. Com a repercussão negativa do caso, o governo norte-americano decide aprovar a Lei de Registro de Super-humanos. O recurso da exigência de revelar as identidades secretas para colocar heróis em caminhos contrários não chega a ser novo, já foi explorado pelos clássicos dos quadrinhos Watchmen de Allan Moore e David Gibbons (1986), O cavaleiro das trevas de Frank Miller (1987) e no seriado Heroes, exibido no Brasil pelo Universal Channel. Mas em Guerra civil, o tema ganha um novo sentido, sai das discussões em torno da Guerra Fria e se contextualiza no debate da Guerra ao Terror, após o 11 de Setembro, quando a liberdade dos cidadãos passou por outra série de cerceamentos.
Problemática que dá um caráter humano às histórias em quadrinhos, deixando de lado seu tradicional dualismo do bem contra o mal. No enredo proposto por Millar e McNiven, o espaço entre o branco e o preto ganha gradações de cinza, onde cada personagem responde à sua própria noção de ética. Se por um lado os rebeldes liderados pelo Capitão América temem tirar as máscaras e colocar em risco seus familiares, eles se recusam a colaborar com o governo e serem usados como soldados em ações questionáveis que envolvem a política norte-americana. Uma ironia, afinal o Capitão América foi criado como arma secreta do exército dos EUA para combater o nazismo de Adolf Hitler na 2ª Guerra Mundial.


Esse caráter plural de razões se fortalece com a maneira que a trama foi construída. Espalhada em 100 revistas - abrangendo histórias paralelas em títulos como O incrível Homem-Aranha, Wolverine, Quarteto Fantástico, Mulher Hulk, X-Factor e Pantera Negra -, a série compõe um caleidoscópio de pontos de vista, onde cada exemplar é trabalhado sob a perspectiva pessoal do personagem em questão. Para aumentar ainda mais a complexidade do enredo, a história investe em personagens dúbios como o grupo de ex-vilões Thunderbolts, do sempre polêmico Justiceiro e do Homem-Aranha (que revela em cadeia nacional ser o fotógrafo Peter Parker) e Sue Storm (Mulher Invisível, do Quarteto Fantástico), que migram de um lado para o outro.

Mas a humanização da obra ganha uma outra dimensão com as 11 edições da revista Front Line, que aborda o tema através dos trabalho de jornalistas encarregados de cobrir o assunto, retomando a ideia da série Marvels (1994), escrita por Kurt Busiek e desenhada por Alex Ross. No entanto, essa multiplicidade de vozes termina se perdendo na compilação lançada pela Panini, já que foram reunidos apenas os sete exemplares do enredo principal. Bom, agora nos resta aguardar a decisão da Panini em publicar o restante de Guerra Civil, a série de gibi mais vendida nos último dez anos.


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